25.9.11

Precipitações

Alto do morro grande, domingo preguiçoso de setembro.

Oi.

Hoje seria um dia especial, estava marcado com caneta vermelha no meu calendário. Mas quem disse que as coisas são como sonhamos? Ainda abro um sorriso quando ouço suas músicas preferidas ou mesmo quando acho aquelas folhas amareladas escondidas entre as páginas dos meus livros.

Estou tentando me afastar das coisas que me atrasam e ser mais responsável, porque já não sou mais uma criança e nós dois sabemos disso. Nossa árvore favorita está linda, tenho a visto por esses dias: cheia de folhas novas, verdinhas e brilhantes. E você ainda dizia que ela estava morta né? Minhas risadas tinham razão, eu sempre soube.

Quarto dia de primavera. A estação em que o azul do céu tem um tom amigo do lilás, acho lindo. Pena que ultimamente esteja tudo nublado e não dá pra ver nenhum dos dois... está tudo tão cinza quanto seu olhar da última vez que te vi.

Por aqui o quarto continua bagunçado, mas agora eu já consigo encontrar o chão. Voltei a desenhar como antes e meus projetos pro réveillon mudaram, afinal agora estou desempregado. Vamos ver que outras surpresas me aguardam.


Assinado com minha caneta azul que é a que você mais gosta e uma letra feia, meu nome:


Felipe Eller

Lipe



P.S: Quanto a nós dois, só uma palavra: Saudades.

23.9.11

Tu Tu Tu



Alô? Alguém jaz aí? Algum rapaz capaz de trazer paz ao meu desencontrado coração? Algum que me encontre na rua, aponte pra lua e diga que me vê...

Alô? Ainda jaz alguém aí? Sei que estou pedindo em demasia, não preciso tanto; era apenas pranto. Me arrume um que sorria, que sempre dê bom dia e que na hora tardia, todo todavia, sinta.

20.9.11

Versinho



Sou encantado pelo amor que canto, que às voltas me põe aos prantos nos cantos. Não me pesa; não me importo. Tudo isso, amor, porque te sinto. Ah, e sinto tanto!

12.9.11

A Leitora


Saí de casa desprentecioso, empurrado pelo vento frio e ruído de motor. Perambulando pela cidade vazia em busca de algo que eu não havia perdido, afinal, não há jeito de perder algo que realmente nunca foi seu. Tanto asfalto percorrido até aquele calçamento de pedra antigo, castigado por saltos de sandálias e solas de botinas fora de moda. Pedras que guiavam a um singelo estabelecimento que já me era usual nas quintas-feiras. Eu sorri para a tarde que deslizava telhado a baixo, deixando o escuro dar contraste aos raios alaranjados que escapavam pela grade de madeira de lá.

Na mesa, sorrisos servidos. Alguns lindos, outros nem tanto;mas todos lidos. Tudo fora cuidadosamente assimilado, com exceção daquele par de olhos castanhos que a noite trouxe pelas mãos e libertou para perto de nossos rústicos assentos. Sua dona ficou ao nosso lado, acariciando a todos, cada um à sua vez. Ela sussurrava. Eu a olhava tal criança observando uma caixa de presentes fechada. Meus pensamentos suplicantes se tornaram verbos, e assim suplicaram ao par de olhos que acariciassem-me também.“Sim”, ela respondeu. Esperei calado, como de costume. A luz ainda era alaranjada, mas não iluminava o suficiente. Ela veio, silenciosa, sorrateira, sorrindo. Ao seu primeiro toque senti uma atmosfera mista de misticismo, dúvidas, adrenalina e curiosidade me entupirem as vias respiratórias. Eu me afogava e gostava; acima de tudo ouvia. Cada letra cuidadosamente costurada a outra formando a colcha de palavras que me embrulhava foi sendo gravada em minha memória.

Tocava lento, deslizando a ponta dos dedos em cima de cada linha, explicando cada traço. Falou sobre mim; meus passos, minhas quedas. Meu auge; meus cortes. Rasos, sem vida aparente, sem voz. Levemente foi em cada campo, me explorava com os olhos. Quando menos esperava, seu silêncio e um sorriso mudo. Não poderia acabar assim. Minha frágil Vida. Futuro. Dinheiro – até isso! Passamos pelos clichês que me soaram tão verdadeiramente coerentes, mas ainda havia um vácuo. Não houve muitas palavras lindas. Quando perguntei sobre minha maior curiosidade e aflição, seus dedos me atravessaram o peito, fazendo suas unhas, que nem longas eram, cravarem-se em meu coração. Ela acariciou minha linha mais rasa, mais fina; e com voz lamentosa me respondeu descosturando:“Amor? Criança, não tem. Nunca teve”. Minha memória falha adiante. Foi o fim daquela noite.

Talvez mentisse, talvez me provasse. Eu não quis cogitar essas possibilidades. O choque foi maior do que a minha vontade de ficar. Não falei, não perguntei, não exclamei. Sou um verbo no pretérito perfeito. Perfeito, só assim mesmo. Pelos meus olhos, escorri.


9.9.11

Curta


- É tanto nome pra uma coisa só, né? Amar e gostar... Cadê a diferença?

- Eu sei a diferença entre amar e gostar.

- Ah é? Então qual é?

- Simples: Eu te amo. Você gosta de mim...

6.9.11

Da minha mais triste Sina

Ando com você nos calcanhares. Já faz algum tempo que o fato me enfraquece, mas é assim que as coisas são. Você que eu tento manter preso ao chão, age feito uma criaturinha travessa e me prova que sabe escalar. E me sobe, até o topo da cabeça. Aí é travessura e bagunça que não acaba mais: invade meus pensamentos, a gritos e ponta-pés; chutando tudo para fora porque acha que o lugar lhe pertence. Impulsivo e impaciente, pobre criança. Pobre de mim, aliás. Porque acima de tudo, ando com você nos calcanhares, bem preso. Não quero te deixar para trás, quero você comigo de uma forma ou de outra. Já faz algum tempo que o fato me enfadece, mas é assim que as coisas são...

3.9.11

Carta

Hoje a cidade acordou tomada por uma massa de ar meio violenta - ah, não é isso mesmo que eu quero dizer. Quero dizer que aqui está ventando muito; e o vento me lembra você. Cada vez que o uma rajada me passa pelo corpo é como sua alma me abraçasse. Ah, como eu sinto saudades!

Incrível a sua capacidade minuciosa de apontar detalhes em mim, de reparar no meu cabelo ou adivinhar quando estou mentindo sem fazer esforço. Não esqueço que você descobriu um dos meus maiores segredos inconscientemente, sonhando mesmo. Eu rio. E você me deixa feliz, mesmo àdistância.

Nunca importou muito onde estávamos: na calçada em frente à sua casa, naquela pracinha que muitas vezes foi alvo das nossas críticas mais pesadas ou parados numa esquina qualquer. Eu estava olhando pro seu rosto. Era você ali comigo, me dando sensação de nuvem. Só você faz isso, é quase um super-poder.

Aprendi tanto com você. Você me deixou desenhar alguns dos seus sonhos e me ensinou a imaginar os meus próprios; algo tão íntimo que praticamente sonhávamos juntos. O engraçado é que o papel de Peter Pan deveria ser meu, mas é você quem me pegava pela mão e me levava às alturas, mais perto do céu. Você me mostrou que só ele é o limite. Você sabe voar.

Estou no chão agora – de novo; estou precisando das suas nuvens. Não sei como, mas você faz o mundo parecer um lugar melhor assim quando você chega. Vem e me dá um sorriso de presente? Vem, estou te esperando! Vem e me leva daqui. Vem voar comigo?