A ironia do destino novamente me arrastava para um daqueles encontros que nunca foram marcados – era reinação dele me fazer trocar tantas palavras com um recém não-desconhecido. Informalmente apresentados demais. Não me lembro realmente como fomos parar naquela mesinha com música ao fundo, mas estávamos lá. Se me recordo bem, ele tinha algo parecido com uma mania – um ritual talvez. Olho em mim. Olho no copo. Copo nos lábios, olhos nos meus. Língua nos lábios. Olhos nos meus lábios. Hipnotizante. Não tenho outra palavra para descrever tal rapaz.
A sua voz roçava meus ouvidos, ouriçando-me os pelos da nuca. Eu? Ah, eu desconpassava. Cruzava e descruzava as pernas, cantarolava o shimbalaie do fundo e ele ria – eu ria, bochechas corando. Algo em mim subia, forte. De encantos o culpado não era pobre: labioso ele era; um persuadidor. Em outras palavras, ele tinha um bom papo. Embalou nossa noite e já passava das tantas, depois de tanto taça-vai-taça-vem e conversa-vai-conversa-vem, que nos solicitaram que nos retirássemos do local. A noite não era linda, mas ventava – minha cabeça já estava alta e voava com meu cabelo.
Lembro-me de piscar os olhos por duas vezes. Depois da primeira delas, me deparo com um beijo rotulado descortês; depois da segunda, um empurrão cama a cima. Depois, vários empurrões conjuntos. Não me lembro a quantas ia a temperatura da madrugada, mas meu grau era alto e o quarto suava. Aquilo tudo diluído: a conversa, os olhares. Ele tinha algo parecido com uma mania – um ritual talvez. Mão. Mãos. Corpo. Corpos. Não tenho outra palavra para descrever tal rapaz: Ele era hipnotizante.