26.4.11

Esboço Sentimental



Carrego comigo uma vontade, uma ânsia de te ver. Um desejo que alimenta meus olhos a procurar vorazmente por você a cada esquina que se dobra ou caminho reto. Eu busco por algo que eu nunca realmente tive.  Procuro sozinho por seus matizes – vermelho na cabeça, vermelho no peito. Vermelho que me cora a face quando seu sorriso me pinta a consciência. E tudo que eu não tenho é contato - nem futuro, nem imediato. O que tenho mais próximo é sua voz, reproduzida várias vezes incansavelmente, mas mesmo assim contínua. Me distraio ao te ouvir e começo tocar seus sons, pra sentir você; brincar de ser sinestésico. Só peço que não seja como as manchas coloridas que vejo flutuando enquanto você canta: lindas de se ver, mas tão passageiras. Que segure minha mão, que sorria. É só.

21.4.11

Retalho de um semestre


A gente andava junto. Todo dia. O mesmo trajeto, mas não a mesma conversa. Era tão bom ouvir sua voz deslanchando frases grosseiras sobre sua própria reputação duvidosa, me fazia rir.  Éramos Eros e Psique. Dois em apenas um, escondidos no castelo, no mesmo quarto, dormindo - esperando para sermos salvos por quem jamais viria a atravessar o muro. Sim, já estávamos a salvo, no mesmo sonho. E que crescessem as ervas e a floresta, que a hera cobrisse a torre, nada mais importava. Era o nosso sonho, juntos.

15.4.11

Desfazer Obsoleto


Eu sabia que sim, sabia que você viria. Não foi uma promessa sob jura em nome de todos os santos, ou um compromisso feito com o que há acima dos céus; pelo contrário, foi um sussurro segredado em sopro, que ninguém além de mim – nem as forças desconhecidas, nem a conspiração do universo – ouviria.

Meu apartamento pequeno fora devidamente preparado – minhas essências e incensos cuidadosamente espalhados influenciavam todo o andar.  Vesti meu melhor sorriso e espalhei por cada metro alcançável minhas expectativas. Entrei em algo confortável, algodão fino branco. Cabelo penteado, rosto barbeado, chakras alinhados. Eu estava pronto.

Aquela minha ansiedade infantil, coisa que eu imaginei que nunca mais apareceria por ninguém, fazia meu coração parecer um beija-flor – acelerado, fazendo batidas mudas, praticamente um zumbido. E assim, do meu peito à boca ele ia, a medida que cada minuto entre nós deixava de existir. 

Ah, os minutos... eles estavam indo-se e levando consigo minha ansiedade infantil, mas deixavam por substitutos uma boa quantia de decepção. O relógio ficou parado, os ponteiros não, nem a lua – ela também se fora, levando sua cortina azul marinho, manchada de estrelas. Deixou luz, que me esfregara a realidade na cara, cegando-me os olhos. Tanta claridade, tanta sensibilidade. Tanta que me transbordava aos olhos. O meu melhor sorriso se amarrotou, enquanto eu varria minhas expectativas que estavam ao chão porta a fora. 
O cabelo bagunçado, o rosto inchado – mas mesmo assim liso, onde o que me machucara tanto escorria livremente.

Me agarrei ao que eu tinha. Ao meu nada que agora era meu tudo e me fazia entender porque eu expulsara de mim, tempos atrás, aquele sentimento – o qual me inebriara por um momento, antes.  Meu tudo abandonado. Sozinho, por mais que doesse, a palavra ecoava feito o cheiro impregnado nas paredes. Eu jazia empoçado na cama, não tão molhado, aguardando o fim que a lua me propusera. Minha poça não duraria muito tempo. O sol faria seu papel sem pestanejar. Era hora de secar – e eu nunca desejara isso tanto quanto agora.

13.4.11

Almost Lover - A Fine Frenzy


A música Folk realmente tem sido uma ótima companhia e, sinceramente, quando eu comecei a ouvir não imaginei que gostaria tanto. É meu estilo musical preferido para as madrugadas insones ou tardes chuvosas, também gosto muito de ouvir enquanto estou desenhando ou escrevendo. Talvez meus comentários aqui pelo PlayIt sejam um tanto suspeitos e subjetivos, já que é das minhas músicas que eu estou falando.

Desta vez, o que tenho em mãos é A Fine Frenzy. Alison Sudol, uma cantora-compositora americana, com seu primeiro album lançado em 2007. Suas canções são minimalistas e um tanto dotadas de melancolia melódica - algo que eu realmente tenho grande simpatia - e já foram utilizadas em séries como One Tree Hill, The Hills, Dr. House, CSI e Wildfire. Além desses traços, suas composições possuem grande sentimentalismo e somadas a um toque clássico da musicalidade hipnótica arranjada ao piano, trazem uma sensação de notalgia:

Adeus, meu quase amante
Adeus, meu sonho sem esperança
Estou tentando não pensar em você
Então voce poderia apenas me deixar? 
Até logo, meu romance sem sorte
Virei minhas costas pra você
Eu deveria saber que você me traria dor?
Quase amantes sempre trazem


10.4.11

Amanhecer mudo


Bom dias não me acordavam quando dormíamos juntos. Você só sorria, era suficiente. Era encantador à vista, bom de se olhar - o que você não gostava que eu fizesse com frequência, acho que se assustava. Nós éramos nós durante as horas em que estávamos juntos, as poucas. Nunca prometemos nada um ao outro, nem bom dias...