27.9.10

Kill Billy

Numa dessas minhas andanças no deviantART.com, passando pela galeria de MarsW encontrei essa imagem um tanto peculiar que me arrancou uma boa gargalhada. Pra quem não conhece, essa é a Mandy, de "As terríveis aventuras de Billy e Mandy", e foi carinhosamente comungada ao Kill Bill, do Tarantino. A Katana trocada pela foice do Puro-Osso só pra deixar mais superficial ainda a vontade que ela sempre teve de matar o Billy - isso sem dizer que deixou mais, hum, interessante. Não resisti, postei.

26.9.10

Bem-vindos ao mundo de Kiki Strike

Mais um livro! Encerrei ontem a leitura de Kiki Strike e a Cidade das Sombras, de Kirsten Miller. Tudo começa quando a vida comum da jovem Ananka Fishbein, uma menina de 12 anos que sempre foi a estranha da turma, muda por culpa de sua curiosidade. Ananka avista um buraco num pequeno parque perto de seu apartamento e vê algo saindo de dentro dele. Mal sabia ela que aquilo mudaria sua rotina para sempre.

Não por coincidência, Ananka se une a outras quatro garotas: Luz Lopez, uma gênio da mecânica; Betty Bent, uma especialista em disfarces; DeeDee Morlock, uma química brilhante e Oona Wong, uma mestra na falsificação e excelente hacker de computador. Elas foram convocadas pela misteriosa Kiki Strike, formando as Irregulares.

Juntas, as seis meninas se envolvem em aventuras imprevisíveis que mudam de rumo a cada nova porta aberta na misteriosa Cidade das Sombras que, até então, descansava em segredo sob a movimentada Manhattan. Encontrava-se inabitada desde que fora abandonada pelos criminosos contrabandistas e mafiosos que atuavam no século XIX. Tesouros, mercadorias e ratazanas ferozes são só uma pontinha de tudo que elas descobrem explorando esse novo mundo.

Kirsten Miller embala a aventura com uma linguagem que é facilmente compreendida até pelo seu público alvo. Sem grandes complicações, mas nem por isso previsível, a história acelera em cada página virada e a cada pergunta respondida, novas indagações aparecem. É inevitável não lê-lo até o fim, a curiosidade não permite.

Em meio a explosões, jóias e revelações sobre o passado, as Irregulares vão desvendando um mundo desconhecido que envolve pessoas que nem elas esperavam. Cicatrizes e idas desesperadas ao hospital são inevitáveis, e são tão surpreendentes quanto o que pode acontecer num baile adolescente nos arredores da cidade.

Kiki Strike e a Cidade das Sombras superou minhas expectativas. Os mistérios me intrigaram e deixar o livro antes de descobrir alguma nova pista para que o mistério se resolvesse era quase impossível. A forma simples que a história te envolve, com os enigmas aguçando a curiosidade natural faz com que devorar esse livro seja uma tarefa deliciosa – e como conseqüência previsível já estou à procura pela continuação da história: Kiki Strike vol. 2 – A Tumba da Imperatriz. Se está à procura de uma leitura prazerosa e um tanto intrigante, a indicação está feita.

20.9.10

Refluxo


Acho estranho como, do nada, essas palavras saíram. Pareciam ter vida própria. Num devaneio meu percebi que fui uma distração, uma vírgula que apareceu ironicamente no seu destino. Sem motivo mesmo. Por simples tédio das Moiras, vendo uma mesmice infindável, os fios de nossas realidades completamente diferentes foram entrelaçados - com a mesma facilidade que os desentrelaçaram momentos depois.
Besteira do destino? Provavelmente não. Por mais clichê que seja, coincidencias são ilusões. Nada é por acaso e, além disso, me atrevo a afirmar que lições foram aprendidas nesse trajeto. A fortaleza tão inabalável fez-se fraca feito areia. A fragilidade alheia, então exposta e visível, tornou-se forte o suficiente para encarar o impacto e manter-se de pé. A mudança é necessária e exige que renúncias sejam feitas. Não vejo motivo aparente que talvez impedisse alguém de mudar a não ser o medo.
Três parágrafos. Começo, meio, fim. Lachesis foi justa - e arrisco a dizer que foi comigo - e desentrelaçou-nos logo. Também não acho aproveitável tentar dizer qual motivo ou critério de avaliação a fez tomar tal decisão. Talvez eu esteja equivocado. Talvez não seja eu o equivocado. Talvez ela estivesse errada o tempo todo. Talvez seja apenas uma suposição. Talvez...

17.9.10

Disfarçadamente


Paciência sempre fora uma virtude minha. Não ironicamente, eu estava esperando por alguém enconstado num poste. A noite estava fria e o vento sussurrava algo que era entendido apenas pelas folhas das árvores, que respondiam-lhe com agitação. Sinceramente, eu já havia me esquecido quem eu esperava. Só conseguia prestar atenção na figura - um tanto única - que entrara no meu campo de visão. Por incrível que pareça, eu nunca havia lhe dirigido uma palavra sequer, mas sabia seu nome.
Dificilmente alguém prestaria atenção naquela menina baixinha, meio encurvada, discretamente posta num vestidinho preto fosco. Não tirei os olhos dela. Seu cabelo possuía um tom peculiar de loiro, mais claro que trigo porém não se reduzia a um simples branco. Liso, jogado para o lado direito, cortado ao meio das costas, com pontas levemente repicadas. Quase platinado, reluzia.
Cabisbaixa, não deixava que fossem vistas suas feições um tanto comuns, mas mesmo assim unicamente lindas. Sua expressão poderia ser traduzida como um grande nada. Os olhos não tranpassavam fragilidade, apesar de dotados de um tom angelical. Suas sobrancelhas finas acompanhavam o tom neutro do cabelo. Os cílios, pelo contrário, eram negros e longos, destacando seu olhar. Num todo, seu rosto parecia ser feito de porcelana - e não estou dizendo isso pela palidez extrema. Sua expressão parecia congelada assim como o foco de seus olhos. Pareciam feitos de vidro.
Eu a observava, confiante de que não era notado. Nem sequer sabia eu, então, de um terço do que essa menina era capaz. Enfim, pé ante pé, ela foi se aproximando de mim, que a olhava disfarçadamente. Ela não vinha em minha direção, seu caminho era paralelo. Seus passos silenciosos faziam-na parecer um fantasma que deslizava pela calçada. Assim que ela passou perto de mim, seus olhos perfuraram os meus, feito uma flechada. Assim, certeiro. O olhar mais forte e amedrontador que eu já vira em toda minha vida, mas ao mesmo tempo convidativo.
Seu rosto, então, descongelara. O olhar estava acompanhado de um sorriso malicioso, perigoso. Meu coração disparou, as mãos suavam frio. Não tive nenhuma reação decente. Consegui, com muito custo, gaguejar duas palavras: Kiki Strike. Ela continuou seu percurso, seu sorriso me fora um alerta. Se eu sabia seu nome, sabia que estava brincando com fogo - estava avisado. Do mesmo jeito que aparecera, ela se fora. Sem fazer ruído algum, misturada às outras pessoas, estranhamente percebida por mim, deslizando entre as sombras. Ao longe, o cabelo alvo desaparecera no escuro, mas a impressão de que ela ainda me observava não saía da minha cabeça. Ela realmente já era o que sempre quisera ser - uma menina perigosa - e tinha plena consciencia disso. Minha volta pra casa foi completamente normal e patética. Não encontrei quem esperava e nem consequi vê-la. De fato, eu não a vi novamente. Se ela me olhava - de longe, ou quem sabe bem de perto - bem, disso eu não tenho certeza.

1.9.10

Apenas um toque


Assim, a tola água apaixonou-se pelo fogo. Simples e inexplicavelmente. Sedenta, desejava por aquele toque, aquele beijo sonhado. Aquele beijo impossível. A rebeldia, a convicção e o poder que tal elemento possuía deixavam-na deslumbrada.

Limitada à sua natureza imutável, perdia-se ao pensar como eram opostos. Sua permeabilidade, sua aceitação, sua delicadeza – nada disso via em seu objeto de desejo. Via força, via independência, atitude – e gostava. Via vermelho, via alaranjado, via amarelo, via todas as tonalidades de tais cores presas entre a ele. O fogo não era indefeso e tangível como tal, pelo contrário, feria quem ousasse tentar. Intrigada ficava, já que não sabia ser diferente. Queria ser mais forte.

Valorizava as virtudes que via nele. Invejava seu brilho, seu arder, seu calor. Ela gostaria de chamar isso de beleza, mas estava certa que não era apenas isso. Sentia algo estranho, algo não tinha motivo para existir, afinal eles sequer haviam se aproximado. Porém existia.

Atingindo, o fogo também sofria, mas não transpassava dor alguma. Sofria amedrontado quanto a sentimentos e por isso não deixava que se aproximassem. Sofria consciente de sua capacidade destrutiva. Temia seu próprio poder de morte. Sonhava em tocar sem machucar, mas sabia que não estava preparado para tal.

Rancoroso de sua insensibilidade, encantou-se ao ver o que lhe faltava na água. Sua beleza, sua vitalidade, sua receptividade, seus sons. Confortava-se ao ouvir, longe, seu suave canto em alguma queda d’água. Boquiaberto tal gruta ficava quando, raramente, fixava seu olhar em como ela refletia tudo que estava à sua volta e às cores que criava em seu interior. Todos os matizes compreendidos entre o verde e o azul-anil que ela manipulava com destreza.

O desejo era mútuo, assim com a incerteza e o medo. Tão intenso quanto o que sentiam era a idéia de impossibilidade que os encurralava. Ela queria arder em seu calor, ele mergulhar em seu profundo, queria sentir. Ansiavam juntos. Frescor e ardor. Mutuamente. Talvez seja a única coisa que existe em comum entre estes. Queriam estar onde há cor. Onde há dor. Onde há amor.

Imagem: Fire and Water ~idarjorsingDeviantArt.com